O fotógrafo Sebastião Salgado e seu filme O Sal da Terra | Marcus Vinicius Pavan | Fotografia

O fotógrafo Sebastião Salgado e seu filme O Sal da Terra

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publicado: 01/04/2015

O Sal da Terra - Fotografo Sebastiao Salgado

O filme Sal da Terra, dirigido por Wim Wenders e por Juliano Ribeiro Salgado, estreou recentemente no Brasil e é um documentário apaixonado por Sebastião Salgado. O filme conta um pouco da longa trajetória do renomado fotógrafo brasileiro e apresenta seu ambicioso projeto “Gênesis”, expedição que tem como objetivo registrar, a partir de imagens, civilizações e regiões do planeta até então inexploradas.
 

Embora o documentário apresente trechos da vida do fotógrafo narrados tanto pelo próprio Salgado quanto pelos dois diretores, o filme tem o predomínio claro do ponto de vista de Wenders sobre seu protagonista. Trata-se do ponto de vista de alguém que admira em igual medida a obra e a vida do autor das séries Trabalhadores, Êxodos, Gênesis, cuja realização é “reconstituída” por meio das memórias de Salgado.
 

O artifício de ter a voz (e por vezes a imagem) de Salgado projetada sobre suas fotografias resulta numa espécie de faixa comentada de um álbum fotográfico. Lá estão os registros da América Latina mística, do enxame humano de Serra Pelada, da fome na África, do Kweit em chamas.
 

Em paralelo, é contada a história familiar e profissional de Salgado – o encontro com Lélia em Vitória e a ida do casal para São Paulo, a proximidade com a militância à esquerda, a decisão de se mudar para a Europa após o recrudescimento da ditadura, o abandono da carreira de economista em benefício da fotografia, o nascimento dos filhos (incluindo a surpresa da descoberta de que o segundo é portador da síndrome de Down), o impacto crescente de suas fotos e o reconhecimento internacional como um “fotógrafo social”.
 

Até que entra em cena o genocídio de Ruanda (1994), como um ponto de inflexão na vida e na carreira de Salgado – e também no curso do filme. Em meio à produção de Êxodos, Salgado se dirige a Ruanda, onde se sabia que o conflito entre tutsis e utus estava provocando significativos deslocamentos populacionais. O cenário que ele encontra, contudo, ultrapassa largamente os parâmetros de crueldade que suas retinas, acostumadas às misérias da África e das Américas, suportavam. Salgado se vê diante do horror. E capitula. “Adoeci. Não tinha nenhuma doença infecciosa no corpo. Mas minha alma estava doente”, ele diz no filme. Era a doença da descrença. Ou da convicção de que esse “animal feroz” que são os humanos, cuja “história é a história das guerras, da repressão, uma história louca”, não merecia viver. Para curar a alma, Salgado se voltou para a natureza.
 

Dessa fase emergem o Instituto Terra (com o replantio de mata atlântica na região da fazenda de seus pais, em Aimorés) e o projeto Gênesis.
 

O filme acompanha esse mergulho tectônico de Salgado mostrando-o já não mais com a câmera apontada para um alvo, mas com as mãos em torno da copa de uma árvore. O relato de registros dilacerantes sobre a condição humana dá lugar a um discurso de encantamento com animais e plantas e reflexões sobre a eternidade e os ciclos da vida.
 

Com Gênesis, observa Wenders, Salgado “escreve uma carta de amor pelo planeta”. E com O sal da terra, Wenders e Juliano Ribeiro Salgado endereçam sua carta de amor a um homem que escolheu a fotografia como sua forma de viver para contar.
 

O Sal da Terra – Ficha técnica filme
 

Lançamento: 26 de março de 2015 (1h50m).
Direção: Wim Wenders, Juliano Ribeiro Salgado.
Gênero: Documentário, biografia do fotógrafo Sebastião Salgado.
Em ‘O sal da terra’ Sebastião Salgado usa a fotografia para contar a história de seu tempo
 

Assista o trailer do documentário O Sal da Terra do fotógrafo Sebastião Salgado:
 

 

[update 10/04/2015] Confira com exclusividade uma cena de O Sal da Terra, onde Wim Wenders relata a primeira vez que viu uma foto de Sebastião Salgado.
 

O Sal da Terra

Confira com exclusividade uma cena de O Sal da Terra, onde Wim Wenders relata a primeira vez que viu uma foto de Sebastião Salgado.Gostou? Corra já para o cinema! http://bit.ly/osaldaterra_salas

Posted by O Sal da Terra on Quarta, 8 de abril de 2015

 

Sobre Sebastião Salgado – Fotógrafo dos mais premiados e conhecidos do mundo, o brasileiro Sebastião Salgado é uma espécie de aventureiro-viajante do século 21.
 

Um viajante com pauta social, no entanto, cujas lentes acompanharam sagas humanas como êxodos, migrações, secas, deslocamentos decorrentes de guerras e genocídios, registrados em séries a que ele dedica longos anos. No documentário “O Sal da Terra”, direção conjunta do premiado diretor alemão Wim Wenders e do brasileiro Juliano Ribeiro Salgado, filho de Sebastião, o foco desloca-se nessas viagens de Salgado, procurando revelar como se desenvolve o seu trabalho singular.
 

Indicado ao Oscar de documentário, o filme O Sal da Terra recebeu o Prêmio do Júri na seção Un Certain Regard do Festival de Cannes 2014 e também o César como melhor documentário. Wenders conheceu o trabalho de Salgado cerca de 30 anos atrás, através de fotos que comprou, uma delas da série realizada em Serra Pelada, uma das mais impressionantes da carreira do fotógrafo.
 

Os comentários de Wenders, também fotógrafo e casado com uma (Donata Wenders), são, até por sua afinidade com o meio, muito pertinentes, sem deixarem de ser pessoais – e assim quebrando qualquer sugestão de formalismo que normalmente contamina as narrações tradicionais.
 

O grande êxito do filme está em apresentar os bastidores do processo de realização de muitas das incríveis fotos de Salgado através de seu próprio relato, o que fornece uma aproximação a um método de trabalho muito preciso e apaixonado, desenvolvido ao longo das mais de quatro décadas a que ele se dedica a uma profissão que abraçou pela irresistível maré do acaso.
 

Nascido em Aimorés (MG), em 1944, único filho homem entre sete irmãs, Salgado formou-se economista por pressão do pai, como ele chamado Sebastião, um fazendeiro e criador de gado. Uma bolsa de estudos o levou, junto com a esposa Lélia, a Paris, onde acabaram se radicando, ele trabalhando para a Organização Internacional do Café.
 

Um curso de fotografia, uma câmera de presente de Lélia e as viagens a trabalho acabaram desviando o economista rumo à fotografia em tempo integral. Passando ao largo de uma preocupação estritamente biográfica, o documentário não detalha o período de consolidação da carreira de seu protagonista, nem sua passagem por agências com a Sygma e a Magnum.
 

A preocupação é dar voz ao próprio Sebastião ou acompanhá-lo em algumas viagens, tarefa que é dividida entre Wenders e Juliano. Até pelo parentesco próximo de Juliano com Sebastião, é diferente o material produzido pelos dois diretores, o que tornou mais trabalhosa a montagem, mas enriqueceu de visões e vozes um material que nunca corre o perigo da hagiografia.
 

Há uma serena gravidade e contenção acompanhando cada imagem de “O Sal da Terra”, sem esconder uma irresistível admiração por seu personagem, desvelando sua paixão pela vida, o ser humano em tantas situações-limite e também pelos animais e a natureza, objeto de séries mais recentes.
 

Fonte: Focus Escola de Fotografia

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